Tuesday, May 18, 2004

O Elogio do Silêncio

O Elogio do Silêncio. Vivemos num mundo que excluiu o silêncio. A nossa existência está mergulhada numa bolha de ruído permanente ao ponto de, por vezes, o silêncio se tornar incómodo ou mesmo insuportável, criando a necessidade de o preencher com barulho, sons, palavras. Na sociedade ocidental, o silêncio tornou-se sinónimo de solidão, e a solidão num dos maiores medos do homem moderno.

A solidão invoca abandono, tristeza, clausura, isto porque se perdeu o prazer de estar sozinhos connosco próprios, do confronto com o nosso eu mais profundo e íntimo, de nos abandonarmos a nós e ao mundo que nos rodeia. Desde muito cedo a educação faz-se no ruído e mesmo no útero o bebé está já mergulhado num universo sonoro, que tende a ser tanto mais intenso quanto mais ruidosa é a vida da mãe.

Curiosamente existe uma relação entre silêncio e equilíbrio, e essa relação estabelece-se logo a nível fisiológico, o órgão que capta o silêncio é também o centro do equilíbrio humano, o aparelho auditivo.

8 comments:

Ricardo said...

Elogio ao Direito ao Silêncio

Uma das apostas para o novo século é um desenvolvimento sustentado através da interacção emocional e relacional. Por isso há o incentivo crescente às capacidades de comunicação, logo também há um forte incentivo a abdicar do silêncio e da introspecção.

Mas o equilíbrio humano também pode ser feito com ruído, o ruído daqueles que nos querem bem e que nos incentivam. Quanto à necessidade de reflectirmos sozinhos, de nos conhecermos melhor... talvez seja perigoso. O homem, no máximo da sua racionalidade, ao alcançar as respostas que não tem capacidade de compreender pode ser levado à loucura. Felizes os pobres de espírito, deles será o reino dos céus...

http://filhodo25deabril.blogspot.com/

Amita said...

Bem, cheguei até aqui pelas mãos do Ricardo (filho do 25 de Abril), que me sugeriu a tua leitura. Francamente, numa primeira e leve leitura, concordo mais de pressa com o que tu dizes do que com o comentário do Ricardo. Mas voltarei mais tarde, se o tempo assim o permitir, para ler os dois textos atentamante. Amita//brancoepreto.blogs.sapo.pt

Amita said...

Voltei a ler o teu artigo. Definitivamente concordo contigo. Acho necessária a introspeção para melhorar o conhecimento de nós próprios, do nosso Eu interior, para o nosso equilíbrio, principalmente emocional. Poderá ser feita em silêncio ou com música adequada e suave. São bons momentos. Por outro lado, o excesso de ruído é uma forma de silenciar as pessoas, de acabar com os diálogos, elas só se ouvem a si próprias exteriormente (mundo em que vivemos, não?) Bjos e bfs que se aproxima

Anonymous said...

Feliz de te ver por estas bandas, Élvio. Já que na vida real nem sempre existe a oportunidade de nos encontrarmos, pelo menos aqui, no "ciber-espaço"... Começas bem e espero que continues melhor. Visitarei regularmente para ver o que andas a preparar. Um abraço e vê lá se pões aqui alguma da tua poesia.

Anonymous said...

A inteligência é inversamente proporcional à capacidade de suportar ruídos!

Anonymous said...

É preciso ouvir o ruído do silêncio e transformá-lo em algo musical, belo... como nas palavras de um poema, mesmo que atroz...

(ou então não... peço desculpa pela invasão da treta e parabéns pelo blog, pela prosa e poesia :o)

Anonymous said...

O Silêncio não é assim tão apático e doloroso!

È tão inocente, pois tal como no mundo Sons cultiva-se também uma certa ingenuidade!!

Viver silenciosamente, plenamente desligada no mundo dos sons é reconhecer as dificuldades, ultrapassar todos os vestígios incoerentes que a humanidade expõe no limiar da realidade!

È através do Silêncio que vem a nossa inspiração individual, pautado pela originalidade peculiar que encaramos no dia a dia.

Viver silenciosamente, é escutar, é ouvir o que o coração nos diz perante as incertezas, levando-nos á necessidade de reflectir certas coisas.

Mas cada criança que nasce, privada dos Sons muito dificilmente chegará á percepção línguistica onde eu própria instintivamente percorri através de trilhos inexplorados e protegidos pela minha caparaça de betão. Nunca, perdendo a capacidade de olhar para o mundo como se fosse a primeira vez, amar a vida através do silêncio.

A cultura, e conhecimento andam de mãos dadas com a inteligência emocional... essa ligação espantosamente me abriu as postas ao mundo, fazendo-me voar como asas de borboletas na brisa flutuante!

O Silêncio, é belo!
O silêbncio, é escutar!
O silêncio, é meditar!
O silêncio, é aprender!

Anonymous said...

Grande Marc de Smedt por este texto!